quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Audição de monólogo

Dia desses, Catarina no supermercado, olhava preços de remédios  contra pernilongos quando chegou a seguinte mensagem no celular: “- Tem gente que parece que tá com medo de mim...”
Ela deu um suspiro de desânimo: Astulfo. Ómaigódi... Pensou que quando chegasse em casa iria ligar pra ele e esclareceria essa história. E pensou numa desculpa que fosse ligeiramente engraçada pra justificar o sumiço: “não liguei por falta de coragem, porque das duas, uma: eu sou mesmo o seu amor puro, casto e secreto, OU eu estou sendo convencida, ridícula e viajei legal na história toda.” Mas chega em casa e nem se lembra.
Dia seguinte, on line no facebook, veio o chato do Astulfo falando a mesma coisa. Daí, ela, que não estava mesmo fazendo nada, criou coragem e ligou. Teve, claro, que se justificar pelo sumiço e pela ultima ligação, quando ela surtou, xingou, justificou-se com uma TPM e desligou, deixando-o perplexo. Pelo menos ele explicou que “não, ela não era o amor secreto da vida dele e que ela poderia ter perguntado”. Só que ELA PERGUNTOU e ele não respondeu nem que sim, nem que não. Na dúvida e ante as características grudentas e exigentes dele como amigo, ela preferiu sair correndo. Afinal, uns 6 anos sem se ver, uns 3 sem conversar porque o contato foi perdido e de repente ele fica cobrando que ela ligue com frequência, escute as pitangas que ele tiver para chorar, aceite que ele agora use lente azul e tenha altas idéias furadas e que ele apresenta como se fossem o melhor estilo de vida do mundo? Come on!!!!
Ele escutou as desculpas dela e quando ela achava que teriam uma densa discussão de relação (e que fique claro que a relação era de amizade, pura e simples – mentira, não era nada simples), ele dispara a contar da vida dele, dos acontecimentos atuais e passados a médio prazo e sempre que o acontecido era mais sério, ele falava “Ta vendo, Catarina, aconteceu isso e isso e você nem ficou sabendo!” e ela suspirava e mandava ele prosseguir na narrativa.
E ele prosseguia de verdade. Prosseguiu por mais ou menos 50 minutos. Ela falava, “aham, claro, imagina, não-não, pois é, etc...” pra ele ver que ela participava, mas depois descobriu que isso não fazia a menor diferença. QUE-SACO!
Acontece que quando ele finalmente parou de falar de si, dos vizinhos ruins, da cirurgia de emergência onde ele quase morreu, do professor A e da professora B – mulher do A – das 500 páginas que ele tinha que ler pro mestrado e as confusões com os vizinhos e blá, blá, blá, ela bem pensou que era a vez dela contar as desventuras, aventuras e boaventuras, já que era um diálogo, né? Não, não é.
Ela até começou, contou que perdeu o emprego e logo arranjou outro, só que ele cortou e foi falar de alguma outra reclamação da composição da vida dele. Acho que foi nessa hora que ele disse que pretendia se mudar pro Sul e fazer doutorado na Alemanha e mais uns 15 minutos de “blá blá blá, porque eu gosto do sul porque é mais o meu perfil, as pessoas são mais fechadas como eu” e “blá blá blá, porque aí eu vou aperfeiçoar meu alemão e blá, blá, blá.”..
Ai deu! Tudo bem que ela não pagava quase nada pela ligação. Mas ela queria conversar com o Bonitinho dela, queria escutar musicas e queria fugir da sala, porque os pernilongos estavam atacando de voadora as pernas dela. Daí ela disparou que tinha que desligar porque o “quase-namorado” dela estava ligando e ela queria atender. Ele disse que a “quase-namorada” dele também estava ligando e que esse assunto eles conversariam na próxima ligação. Daí, enfim, desligaram.

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