Dia desses eu passei por um homem, eu começando a atravessar uma passarela e ele terminando. Reconheci na hora aquele jeito ridículo de andar, o pânico de quem morre de medo daquele lugar infernal, perigosamente suspenso, totalmente sem segurança, com caminhões incontáveis passando sob as pernas frágeis. EU TENHO PÂNICO DE PASSARELA!
Não fosse o meu desespero em cumprir logo aquela travessia maldita, eu teria perguntado a ele sobre os medos dele. Se o medo dele se estende às escadas rolantes muito altas, escadas de metal e escadas de degraus vazados. Mas, é claro, estávamos os dois correndo, usando todos os poderes mentais para obrigar os joelhos a continuarem se articulando, e os olhos a olharem pra outro lugar, que não pra baixo.
Se não estivéssemos os dois nos empenhando em vencer mais uma vez o medo de cair, porque ele perde ainda um pouco para o medo de ser atropelado, eu teria contado pra ele que nós dois atravessamos os ares com a mesma maneira desengonçada das borboletas quando voam...
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